Retratos Sonoros — Por Wesley Lima Brito

Desde criança me senti atraído por sons, talvez seja pela diversidade de formas, volumes, reverberações, ou pela simples maneira de que este sempre esteve presente em minha vida desde a minha concepção. Uma vez escutei em uma conversa com meu pai que o som é uma das máquinas do tempo que existem porque, ao escutar algo, rapidamente acessamos espaços e memórias.

Retratos Sonoros trata-se de uma investigação que realizo sobre sons do meu cotidiano, dentro dessa vontade de lidar com a arte sonora e o campo expandido do desenho. Certo dia, durante uma das matérias da grade de Artes Visuais, me deparei com a seguinte questão: como transformo um som em desenho? Como transformar um som em imagem? Até que rapidamente me vieram associações e me deparei com os desenhos de frequência, aquela série de linhas que formam a onda, por exemplo quando a gente sobe uma música no SoundCloud e o próprio site realiza esta conversão, transformando os pontos altos do som em linhas verticais maiores, pontos baixos em linhas menores, até o final do percurso que se encerra com a pausa da gravação.

Diante dessa solução, acabei resolvendo os desenhos, caberia  transformar estas conversões em algo mais amplo que não ficasse solto, sem amarras. Para um estudante bolsista, que estuda e trabalha, parte do seu dia se dá na locomoção entre espaços (Ida da Faculdade e Metrô), na vivência em diversos ambientes, sempre dando ouvidos ao meu redor, vi que poderia agregar estes sons aos desenhos, traçando uma linha cotidiana do trabalho. Por exemplo nas terças-feiras, eu passava pela aula de desenho no campo expandido, ao lado do prédio onde era lecionado a matéria, se iniciara uma construção de um prédio comercial, era uma tarefa difícil conciliar minha atenção entre a aula e os diversos sons emitidos pela construção, por vezes, gritos dos trabalhadores (Construção 100m de distância), das ferramentas (Britadeira), durante algumas semanas gravei estes sons com o microfone do meu celular e guardei.

Passando por todas estas experimentações de gravação, acabei percebendo sons que às vezes passavam batidos, comecei a pesquisar mais sobre o silêncio, termos como a Paisagem Sonora e foi incrível de se pensar que o silêncio não existe, pois até mesmo o vento (Vento) consegue passar pela nossa percepção sonora, mesmo trancado em um ambiente silencioso, conseguimos notar a nossa respiração, batimentos cardíacos, entre outras nuances. Assim o trabalho foi caminhando para este registro do meu cotidiano, através de gravações com meu celular e convertendo estes sons em desenhos de frequência com o auxílio de programas.

Britadeira
Construção 100m de distância
Ida Faculdade
Mêtro
Vento

Wesley Lima Brito, nascido em São Paulo, tem 25 anos, formado no curso Técnico em Redes de Computadores – no Centro Educacional e Assistencial Pedreira – (CEAP), atualmente cursando Artes Visuais no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. O nascimento deste trabalho foi o meu pontapé inicial dentro destas questões na arte sonora, percepções, paisagens, a partir disso minha atenção a pequenos detalhes foi redobrada, é como se eu acessasse e recuperasse uma parte minha que antes estava esquecida ou até quase extinta. A rotina cansativa e automática foi desligada e o amor pela cidade foi retomado, são histórias e lugares que passaram a dialogar mais do que já dialogavam.

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