Comecei desenhando. Achei uma boa ideia para pensar o curta-metragem sobre os rios. Escolhi um caderno verde, lápis carvão e fui andar de trem. Parei em cada estação que tinha vista ao rio para desenhar, sem saber realmente o que era importante, apenas observando. Dizem que o desenho deveria ser um treino diário para os artistas, algo assim como fazer abdominais, para nunca deixar-se de estar atento ao que se olha.
Com o caderno meio preenchido, comecei também a recolher outros olhares sobre o rio: frames de filmes, notícias, fotos antigas, fotos de outros artistas. Em seguida, comecei a fazer imagens e, então, a escrever sobre elas. A construir algo a partir do que aconteceu, a ordenar as memórias. Acho que gosto mais do processo de pensar nelas do que de fazê-las. A escrita me ajuda a recuperar o olhar, embora possa soar paradoxal. Se a foto é alguém que olha, o que é que a escrita recupera? O tempo, talvez, mas não esse que congela a foto ou reproduz o vídeo, mas o tempo para parar no olhar, para torná-lo consciente.
*Vivian Castro é artista fotógrafa, doutoranda em Meios e Processos Audiovisuais pela Universidade de São Paulo e colaboradora do Visrurb. Contato: vivian.javiera@usp.br. Site: www.vivianjaviera.com
Vívian instaura a parceria da palavra e da imagem para melhor compreender o mundo… o ponto de partida é o caderno e o lápis