Era a primeira vez que eu visitava o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, e passei algum tempo olhando a obra Tempo Aberto, de Frederico Herrero, uma site specific, como chamam essas obras feitas especialmente para um determinado espaço. As pinturas de Herrero percorriam o mural circular do salão central do MAC com formas um tanto aleatórias em uma primeira mirada, mas que de certa maneira puxavam da memória, junto de suas cores, uma imagem do que estava no além-muro. Imagem e imaginário juntos da Baía de Guanabara, era como se as paredes chamassem para dentro do salão a vista que ela escondia. Como se fosse uma janela.
Mas era só isso? Não conhecia Herrero e nem queria mais conhecê-lo. O que tinham aquelas formas de especial? Andei pela sala e, ao redor, havia alguns bancos com formas geométricas de concreto em cima deles, além de uma mesa um tanto estranha no centro. O que mais há nisso? Sei que às vezes não podemos pedir muito significado das obras de arte. Às vezes é muita exigência, o significado. No entanto, a simplicidade de Herrero me dava nos nervos.
Foi então que avistei duas crianças correndo e brincando pelo salão. Elas corriam e gritavam, animando a exposição. Então elas passaram por baixo da mesa e seguiram. Mas, e daí? E se fosse eu, com 24 anos, barbudo, passando por baixo da mesa que compunha uma obra num museu? Agachei-me em frente à mesa, sentei-me no chão. Olhei, e o que me olhou de volta foi um triângulo de concreto que, em perspectiva, encaixava-se perfeitamente ao triângulo formado pelos pés da mesa. Desenhei essa imagem em meu caderno para posteriormente escrever este pequeno relato.
Pode até ser que aquilo fosse algo intencional da obra. O carpete do MAC é mesmo muito convidativo. Outra hora vi até alguém dormindo recostado em uma de suas paredes ovais. Foi assim que percebi que, mais que um esforço de compreensão, a obra exigia de mim criatividade para além da cognição, para além de meus olhos. Estava ali com meu corpo, numa posição inusitada para alguém da minha idade dentro de um museu, pelo menos segundo o decoro supostamente exigido ali.
Aquelas crianças me (re)ensinaram a usar meu corpo de forma criativa. Não fosse por elas, minha experiência com a obra de Herrero seria incompleta, rasa e limitada. Foram aquelas crianças que me ensinaram a me relacionar com o espaço do museu e com a arte naquele momento.
*Felipe Figueiredo é mestrando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Paulo e membro do VISURB. Contato: felipe.figueiredo1230@gmail.com