Pesquisas Atuais

Fotografia, etnografia, memória e imaginação social
Andréa Barbosa
andrea.barbosa@unifesp.br

Este projeto de pesquisa parte de questões suscitadas em pesquisa anterior (Onde São Paulo acaba?) que tinha como objetivo mais amplo refletir sobre os fluxos das identidades e alteridades criados por jovens moradores de um bairro “periférico” do município de Guarulhos – O Bairro dos Pimentas. Nesta pesquisa, a fotografia se constituiu como importante ferramenta etnográfica e como forma de construção da própria reflexão. Como mobilizadoras das situações de diálogo entre os interlocutores em campo e como forma de expressar e sistematizar a experiência etnográfica. Esse processo de pesquisa nos possibilitou formar um arquivo com mais de 1.000 imagens nas quais enxergamos um caminho estimulante para o desenvolvimento da pesquisa que aqui propomos.Vejo uma necessidade de olhar para estas imagens a partir do que elas podem falar umas em relação a outras, mas também em relação ao que elas fizeram falar ao longo de toda pesquisa de campo. Trata-se, portanto de uma pesquisa que considera o material iconográfico de cunho etnográfico como um arquivo que tem sua potência como conjunto que recria um lugar tanto no tempo como no espaço (Edwards,2011, Derrida, 2001, Banks, 2011). Um arquivo que tem uma biografia ao qual propomos algumas questões: O que elas nos dizem como um conjunto imagético? quais as histórias narradas neste conjunto de imagens? De que lugar da memória e do vivido elas falam? Qual o bairro dos Pimentas emerge dessas das táticas (Certeau, 1994) de imaginação social expressas nas imagens? parte da pesquisa será realizada em estágio pos-doutoral na School of Anthropology and Museum Ethonography da Universidade de Oxford.

Plantas em circulação produzindo a vida da cidade: como quintais, jardins e hortas se configuram como movimento de construção de relações, socialidades e afetos.
Andréa Barbosa
andrea.barbosa@unifesp.br

Olha-se comumente as casas e seus jardins e quintais como algo privado e as ruas como o espaço público associado ao cuidado do poder público ou mesmo ao descuido deste. Contudo, se olharmos para práticas bem antigas que permanecem presentes e que estão sendo reavivadas de plantar, nos quintais e jardins das casas (e hoje em áreas comuns dos prédios e condomínios), espécies que são para serem compartilhadas com os vizinhos e parentes, assim como nas praças e espaços desocupados da cidade vemos serem plantadas hortas e igualmente espécies para serem usufruídas coletivamente, percebemos que talvez essa dicotomia público/privado não funcione tão bem. Caminhando nesse sentido, esta pesquisa visa verificar esta hipótese e perceber como jardins, quintais, hortas e canteiros no espaço urbano se constituem como forma de construir um espaço de afeto, relações de socialidade e conexão com os laços da memória da vida coletiva. Propomos realizar uma etnografia em bairros das regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Barcelona de forma a pensar as conexões destas práticas e suas produções sociais nessas 3 cidades.

Práticas culturais juvenis: modos de ser, estar e representar na metrópole
Alexandre Barbosa Pereira
abpereira@unifesp.br

A juventude e as muitas concepções a seu respeito tem despontado como fundamental numa séria de controvérsias públicas no Brasil, desde as chamadas Jornadas de Junho em 2013, passando pelos rolezinhos, às ocupações das escolas públicas pelos estudantes secundaristas, os jovens têm sido alçados a diferentes e contraditórias representações, como vítimas, como delinquentes ou como agentes de uma suposta transformação política. Com base nisso, a proposta deste projeto é indagar a noção de juventude como construção histórica, atentando para como ela pode ser apreendida a partir de três perspectivas principais: 1) A da juventude com uma experiência vivida; 2) A da juventude como um campo de intervenção de políticas públicas e de representações simbólicas; 3) A da juventude como valor ou estilo de vida altamente valorizado no mundo contemporâneo. Dialoga-se, assim, de alguma maneira, com o modo como Karl Mannheim (1993) concebe a experiência geracional, como uma representação cultural e como uma situação social compartilhada por determinados indivíduos. O que se pretende, portanto, é entender e detalhar melhor as múltiplas representações que sobre a juventude, tanto a partir da forma como as políticas públicas, nos campos da cultura e da educação, e os enfoques midiáticos têm retratado tal noção, principalmente no que diz respeito ao modo como se aborda a juventude pobre, como da maneira como essa noção transforma-se também a representação de um estilo de vida altamente valorizado. Da mesma forma, busca-se compreender as performances, artefatos e produções juvenis em ato, voltando-se etnograficamente para determinados e relevantes contextos juvenis na Região Metropolitana de São Paulo, onde será possível apreender essa juventude vivida em suas vicissitudes. Quer se alcançar, assim, o que Carles Feixa e Pam Nilan (2009) nomeiam com os mundos plurais que constituem subjetividades juvenis com base em discursos e práticas que se apresentam como paradoxais e não dicotômicos.No que se refere à perspectiva da juventude como experiência vivida, o projeto pretende acompanhar, por meio de pesquisa de campo, as práticas culturais juvenis que se realizam em dois determinados pontos de encontro na Região Metropolitana de São Paulo, o Centro Cultural São Paulo, na capital, e a Praça da Moça, em Diadema. Ambos espaços importantes de encontro de jovens adeptos de diferentes práticas e estilos juvenis. O objetivo é tomar esses dois espaços como ponto de partida para traçar as múltipals e diversificadas cartografias juvenis na Grande São Paulo, pensando a experiência de ser jovem no Brasil atual. Com relação às outras duas frentes da pesquisa, a da juventude como campo de intervenção de políticas públicas e como valor ou estilo de vida que se quer adotar ou prolongar, tomar-se à como material de pesquisa as produções discursivas sobre a juventude que são elaboradas pelos mais diferentes veículos de mídia e pelas políticas públicas de educação e cultura, além de um amplo levantamento da produção acadêmica nacional sobre o tema da juventude desde o início dos anos 2000. Em síntese, a pesquisa pretende realizar uma pesquisa multissituada, que atente para diferentes espaços, agentes e instituições que ajudem a pensar como a noção de juventude tem sido produzido e transformada na sociedade atual. Nesse sentido, o objetivo não é apresentar uma definição rígida e muito delimitada de juventude, muito pelo contrário, o que se quer é apreender as muitas formas de ser, estar e representar a juventude na maior metrópole da América do Sul.

Corpas em Operação: análise das corporalidades nas fotografias de Juca Martins durante a Operação Rondão
Gabriel Lopes Franco de Godoi
lopes.gabriel@unifesp.br

Em 1980, uma operação policial teve como foco a região central de São Paulo com a justificativa de reduzir a criminalidade, no entanto, serviu como uma estratégia de perseguição de corpas marginais, principalmente de prostitutas – mulheres cisgênero e travestis. Nesse período, o fotógrafo Juca Martins documentou em imagens as batidas e as prisões, que são o ponto principal dessa pesquisa. Interpelando essas fotografias, nossa atenção recai sobre as formas com que as corporalidades presentes existem e se relacionam entre si, além de pensar a sua relação com outros agentes externos como a cidade, as instituições e as relações de poder. Faremos uma análise desses elementos e de como eles expressam modos de viver. Objetivamos com essa pesquisa, a partir das imagens fotográficas, refletir, num primeiro momento, sobre a relação entre sistemas de repressão e a memória e em seguida expandir para pensar sobre a manutenção desses sistemas na contemporaneidade realizando uma etnografia junto a interlocutores que presenciaram essa operação, que a conhecem e/ou percebem sua repercussão ainda hoje como o próprio fotógrafo, prostitutas mulheres cisgênero e travestis.

Vida, escrita e transbordamentos: biografias e etnografia do Rio Piracicaba
Fernando Monteiro Camargo
camargo.fmc@gmail.com

Descrição: O que orienta esta pesquisa é a possibilidade de ampliar as associações que dizem respeito ao humano. Dessa forma, o percurso do Rio Piracicaba surge como “rio condutor” de relações de mundos que se encontram, disputam e compõem sua biografia. Os encontros são com “seres vivos”, “seres sobrenaturais”, substâncias, elementos topográficos, atividades econômicas, produções científicas, projetos de desenvolvimento do estado e de particulares e os desdobramentos na arte, religião e lazer. A relação dessa etnografia, portanto, é com o transbordamento da vida do rio Piracicaba nos múltiplos mundos que tecem sua biografia. Diante disso, poderia o rio Piracicaba, escutar-me durante minhas caminhadas em suas margens? Poderia ele ouvir minhas conversas sobre as vidas e encontros que tecem a textura de seu próprio mundo? Saberia ele de minhas motivações e de meus interesses sobre sua vida? E, se ele me escuta, será que teria escutado também as disputas travadas entre os bandeirantes e os índios payaguas sobre seu leito? Ouviria ele os sussurros e segredos dos pescadores em suas margens ou ainda as promessas dos devotos do Divino Espírito Santo? E se ele nos escuta, como interfere, dialoga, responde ou reivindica esses múltiplos mundos? Resistiria ele à instalação de barragens em seu leito que tentam controlar a dinâmica de suas águas? Escutando ou não, falando ou não, a questão é que ele atua participando da composição de um mundo a partir dos encontros entre outros mundos diferentes. Que histórias o rio Piracicaba poderia nos contar? Como fazer vazar as existências para as resistências do rio Piracicaba?

Público, privado e vizinhança: praças, quintais e jardins traçados em relação, em um estudo de caso na região de São Mateus, Zona Leste de São Paulo.
Marcia Silva
marciacjs@yahoo.com

Este projeto tem como objetivo abordar um recorte dentro do amplo tema da relação entre sociedade e meio ambiente. Com isso, buscamos trazer para o foco da pesquisa, por um lado, para relações construídas pelos moradores de comunidades da Zona Leste de São Paulo, com as praças da região (espaços públicos), e, por outro, com os quintais e jardins das casas que os cercam (espaços privados). Partimos da hipótese de que esses espaços e seus atravessamentos podem construir e fortalecer relações de pertencimento e vizinhança na cidade, não só entre a comunidade em si, mas também com o ambiente que a circunda. E nossa questão se coloca justamente em tentar compreender como isso ocorre? Como operam essas relações que atravessam o público e o privado no sentido de construir um sentido comum de pertencimento. A princípio nos propomos a realizar uma pesquisa na praça “Barróca” (Parque Linear) no Bairro Parque São Rafael, Zona Leste de São Paulo e nas ruas do seu entorno. Nessa proposta de pesquisa, buscamos realizar um diálogo teórico-metodológico entre algumas áreas do conhecimento, como entre a antropologia e a geografia, além de mobilizar recursos metodológicos e reflexivos da antropologia visual.

Práticas artísticas insurgentes – Artivismo das dissidências sexuais e de gênero na atualidade
Rafael Pinheiro Souza
rafael.pinheiro@outlook.com.br

Este projeto de pesquisa tem como objetivo a análise, a partir de uma perspectiva antropológica, do surgimento de artistas dissidentes de gênero e sexualidade que questionam, através de diferentes linguagens artísticas na contemporaneidade, dicotomias relativas às construções de corpos “normais” e “desviantes”. Por meio da etnografia, pretende-se investigar nesta pesquisa: a) a emergência de artistas dissidentes que não se identificam com as divisões masculino/feminino, nem com as identidades fixas propostas pelo movimento LGBT; e b) as narrativas, potências e questionamentos que surgem no interior das produções dessas artistas brasileiras. Para tal, baseada na ideia de artivismo (tencionado por pesquisadoras/es como um cruzamento entre arte e crítica política), a pesquisa se sustentará no trabalho de campo, em depoimentos e entrevistas, assim como no detalhamento de performances, shows e exposições das artistas, com o intuito de compreender as produções em trânsito e suas possibilidades de construções e desconstruções corporais, identitárias e estéticas na atualidade.